O “Rompendo o Silêncio” entrevistou a psicóloga Géssica Fonseca Dos Santos.
Géssica é formada em Psicologia desde 2015 e especializada em Psicologia Hospitalar. “Acredito que podemos criar um universo melhor através da diminuição do sofrimento de cada indivíduo. Coloco-me a serviço deste princípio em todas as dimensões da minha trajetória de vida.”
Qual sua ligação com a temática da saúde mental?
O compromisso da psicologia viabiliza a saúde e o bem-estar do indivíduo.
O termo saúde mental está relacionado ao reconhecimento do sujeito, dos seus direitos, da sua plena condição de interação na vida social. Exige-se que o profissional da psicologia seja um bom ouvinte, uma vez que é fundamental se atentar ao espaço que o indivíduo se encontra, e em alguns momentos cabe intervir com perguntas, fazendo com que o sujeito venha a refletir onde está sua posição no mundo, pois com esta postura irá contribuir na qualidade do cuidado e respeito ao paciente.
Portanto, o profissional deve ser resiliente às diversas interações que seu trabalho venha exigir, precisa se reinventar constantemente em todas as formas, pensamentos e outras possibilidades voltadas à superação da exclusão daquele sujeito para recuperação de sua identidade, retratando ao paciente que ele é o protagonista principal de sua própria história.
Em que momento da história houve essa necessidade de isolar as pessoas taxadas de “loucas”?
Antigamente, a loucura era considerada uma exteriorização divina e os doentes mentais eram autenticados como profetas. Com o passar do tempo, pessoas rotuladas assim foram julgadas de hereges à infâmia social, sendo excluídas e abandonadas à miséria, nas ruas e nos manicômios, que acabaram se transformando em um depósito humano.
Como isso refletiu para todo o preconceito entorno dos usuários de saúde mental?
O sofrimento psíquico para a sociedade demonstra um conceito de incapacidade, originando vergonha em familiares e pessoas próximas ao contexto do sujeito que sofre diariamente.
O preconceito é desenvolvido a partir desse sofrimento que ocorre não só na sociedade de forma geral, mas também dentro do convívio das próprias instituições – manicômios, hospitais psiquiátricos e hospitais gerais.
“Silêncio dos Afogados” traz o universo dos manicômios e da saúde mental no Brasil no século XX. Como você enxerga a abordagem de temáticas históricas de cunho político-social no entretenimento?
A reforma psiquiátrica é uma ferramenta em construção ao ser humano não somente no Brasil, mas em todo o mundo, e não ocorre de forma consensual e uniforme, mas vinculada às classes econômicas, históricas, políticas e culturais que diferenciam as diferentes regiões e países, determinando as práticas especiais.
Seja ela entendida como interação social e/ou reforma é pronunciada através de um conjunto de iniciativas desenvolvidas nos campos legislativo, jurídico, administrativo, e cultural, que visam modificar a relação entre sociedade e a loucura.
Qual a importância do Estado no cuidado de pessoas com doença mental e no apoio às famílias?
A saúde é direito de todos e dever do Estado garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Na Constituição Federal, foi necessário criar essa lei, incluir nas portarias e normatizações específicas e detalhadas sobre cada serviço que passa a compor a rede de saúde mental.
Por que é tão importante a gente falar dessa temática da Luta Antimanicomial, Reforma Psiquiátrica, Saúde Mental hoje em dia?
O Movimento da Luta Antimanicomial se desenvolveu através da luta pelos direitos das pessoas com sofrimentos mentais. Dentre estas ações está o combate à ideia de que se deve isolar e excluir a pessoa com sofrimento mental. Portanto, o Movimento da Luta Antimanicomial faz refletir que estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, a viver em sociedade, além do direito de receber cuidado e tratamento sem que tenham que renunciar aos seus direitos como cidadãs.
A Reforma Psiquiátrica Brasileira contribui não somente para o processo de desinstitucionalização da loucura, excluindo os manicômios, mas também defende os direitos dos sujeitos acometidos ao sofrimento psíquico.
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